Reforma Tributária: O Governo Vai Receber Primeiro – Você Depois… Se Sobrar

Entenda por que o novo sistema fiscal vai desmontar o caixa de empresas despreparadas e expor a fragilidade dos escritórios que venderam conhecimento por sobrevivência.

1. O risco da falsa normalidade

No Brasil, reformas vêm quase sempre embaladas por discursos de modernização. O problema não está no conteúdo, mas na forma como o empresário médio reage: com ceticismo. A sensação de que “nada muda de verdade” criou uma geração empresarial treinada para ignorar alertas – até que o risco se concretize.

Mas a Reforma Tributária em curso não é uma adaptação, tampouco uma atualização técnica. É uma substituição estrutural. O sistema fiscal brasileiro, tal como conhecemos há mais de cinquenta anos, está sendo desmontado. E os efeitos dessa ruptura não se limitarão ao Fisco: atingirão diretamente o caixa, a margem, os contratos, a viabilidade das empresas e, inclusive, os escritórios de contabilidade.


2. CBS e IBS: a espinha dorsal do novo sistema

A mudança tem nome e estrutura. Com a criação da CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) e do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), nasce no Brasil o modelo de IVA dual, inspirado em práticas internacionais, mas com peculiaridades nacionais.

A CBS substituirá PIS e COFINS no âmbito federal. Já o IBS fundirá ICMS e ISS sob gestão compartilhada entre estados e municípios. Ambos seguem o princípio do crédito financeiro: o direito ao crédito independe da vinculação com a atividade-fim ou do estágio da cadeia – basta que a operação seja tributada anteriormente. Na teoria, é uma simplificação. Na prática, é um novo paradigma contábil e estratégico.

Empresas precisarão reaprender a comprar e vender. O fornecedor escolhido deixará de ser o mais barato e passará a ser o que gera crédito fiscal aproveitável. A lógica econômica será substituída pela lógica fiscal. Margens de lucro construídas sobre exceções tributárias – como vendas isentas, substituição tributária ou regimes favorecidos – tornar-se-ão insustentáveis.


3. O split payment e a quebra do caixa

Se o novo modelo já seria exigente em termos operacionais, o split payment adiciona um fator crítico: a ruptura com o conceito de caixa livre. Nesse sistema, o imposto não é pago posteriormente – ele é retido automaticamente no momento da transação.

Na prática, a empresa deixa de receber o valor cheio da nota fiscal. Recebe apenas a parte líquida. O restante é desviado diretamente ao governo. O tributo deixa de ser responsabilidade do contribuinte para se tornar uma obrigação da operação em si – automática, irrevogável e imune a erros de gestão.

Para empresas que usam tributos como fôlego de capital de giro (ainda que temporariamente), isso será devastador. A autonomia financeira será comprometida. O planejamento de caixa tradicional perde eficácia, exigindo novo ciclo de gestão, nova cultura orçamentária e nova estrutura de precificação.


4. A transição que engana

O cronograma de implementação da Reforma é longo – até 2033 –, mas isso é uma armadilha cognitiva. Muitos acreditam que “há tempo”, quando na verdade a transição será assimétrica. Já em 2026, CBS e IBS começarão a ser cobrados paralelamente aos tributos atuais. O contribuinte terá de lidar com dois sistemas ao mesmo tempo.

Esse modelo híbrido exigirá dupla apuração, compatibilidade de sistemas, ajustes em ERPs, entendimento jurídico da convivência de regimes, revisão de layouts de nota fiscal e adaptação da equipe fiscal e contábil. E tudo isso sem margem para erros: a escrituração será nacional, digital e cruzada em tempo real.

Quem se mover tardiamente não terá apenas dificuldade técnica. Terá prejuízo econômico real.


5. O risco da falência fiscal silenciosa

A falência não virá da inadimplência com fornecedores ou da perda de clientes. Virá de dentro: pela erosão da margem, pela inadaptação aos novos critérios de crédito, pela fragilidade contratual diante do novo modelo, e pela desconexão entre o planejamento financeiro e a nova realidade tributária.

A empresa que não reorganizar sua cadeia de valor com base no novo critério de creditamento perderá competitividade. Aquela que não revisar seus contratos comerciais poderá absorver tributos que antes eram repassados. A que não adaptar seus sistemas poderá ser multada por omissão ou inconsistência. E a que não compreender a lógica do split payment poderá simplesmente quebrar por asfixia de caixa.


6. O papel da contabilidade – e o erro de ignorá-la

Nesse novo cenário, a contabilidade deixa de ser apenas uma prestadora de serviços obrigatórios para se tornar um agente estratégico de sobrevivência empresarial. Mas há uma contradição histórica que precisa ser enfrentada – e exposta.

Durante décadas, os escritórios de contabilidade assumiram para si funções que, na prática, servem diretamente ao Estado, mas sem receber para isso qualquer reconhecimento institucional ou compensação fiscal. São eles que operam o SPED, entregam a EFD, monitoram cruzamentos eletrônicos, respondem a fiscalizações automatizadas, prestam informações que fundamentam a arrecadação, como verdadeiros braços técnicos do governo, mas pagos pelos contribuintes.

Trabalham de graça para o Fisco e ainda são responsabilizados pelos erros alheios. A Reforma Tributária, com sua nova camada de complexidade digital, fiscalização em tempo real e split payment, não aliviará essa pressão. Ao contrário: aumentará a responsabilidade dos escritórios, que agora precisarão investir alto em inteligência tributária, planejamento estratégico e visão setorial, sob pena de se tornarem obsoletos ou substituídos por tecnologia.

Portanto, não é apenas o empresário que precisa despertar. Os próprios escritórios de contabilidade precisam romper com o modelo passivo, barato e operacional que os mantém presos a uma lógica que os explora e os torna invisíveis.

Durante anos, muitos contadores ajudaram a cavar essa armadilha com as próprias mãos. Venderam serviços técnicos como se fossem produtos de prateleira, jogando o preço para baixo como se cálculo tributário fosse farinha e apuração de impostos fosse um favor. Em vez de se posicionarem como consultores estratégicos, preferiram disputar clientes em marketplaces de miséria contábil e principalmente na boca a boca, oferecendo “contabilidade” por R$ 200, R$ 300, R$ 400 ao mês – preços que invariavelmente mal cobrem o tempo de um único dia de análise técnica.

Chamaram de “contabilidade” aquilo que, na prática, se resumiu à geração automática de guias e folhas de pagamento – um serviço operacional, repetitivo e raso, vendido a preços tão irrisórios que não resistiria a uma análise técnica minimamente séria. Trocaram ciência por rotina, raciocínio por execução, conhecimento por volume. E, no processo, sacrificaram sua relevância em nome de uma sobrevivência frágil e silenciosa.

Agora, com a Reforma Tributária batendo à porta, gostaria de ver como esse modelo vai resistir. Como sustentar a entrega de diagnósticos de IBS e CBS, a adaptação ao split payment, a parametrização de ERPs, a revisão contratual, a simulação tributária e o planejamento fiscal com margens comprimidas por anos de desvalorização deliberada?

Não vai. E não deveria.

A Reforma Tributária não é apenas um desafio técnico para as empresas. É também um divisor de águas para os profissionais da contabilidade. Quem continuar vendendo serviço fiscal como se vendesse marmita, será atropelado – não pela concorrência, mas pela complexidade do sistema que ajudou a banalizar.

Ou os contadores assumem seu verdadeiro lugar – como pilares estratégicos da sobrevivência empresarial – ou o mercado vai fazer essa seleção por conta própria.

É hora de se posicionar como o que são: pilares da sobrevivência econômica empresarial. E, para isso, precisam deixar de atuar como meros repassadores de obrigações e assumir seu papel como consultores fiscais de verdade.


7. Uma escolha inevitável: protagonismo ou colapso

A Reforma Tributária já começou. A CBS e o IBS já foram aprovados. O split payment já está desenhado. E as empresas – todas elas –, terão de escolher entre duas posturas: protagonizar sua adaptação ou se tornar mais um número no gráfico de mortalidade empresarial.

A Zannix Brasil Contabilidade já atua com planejamento tributário estruturado para o novo modelo. Não apenas para reduzir impactos, mas para transformar a reforma em vantagem estratégica. Porque o mercado punirá quem esperar. E recompensará quem se antecipar.


Zannix Brasil Contabilidade
Transformamos a complexidade tributária em decisões estratégicas. Porque o futuro já começou – e está sendo tributado.

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp

Deixe um comentário

Recomendado só para você
Dívidas, obrigações e armadilhas pós-baixa: saiba como se proteger Encerrar…
Cresta Posts Box by CP