Black Friday: entre o desconto e o engano – o que realmente está por trás das promoções irresistíveis

1. A sedução do desconto

Todo mês de novembro, as vitrines físicas e digitais se enchem de promessas tentadoras: “50% OFF”, “última chance”, “só hoje”. A Black Friday, importada dos Estados Unidos e transformada em fenômeno de consumo global, tornou-se um espetáculo de persuasão.

Mas por trás dos letreiros luminosos e do gatilho psicológico da urgência, existe uma engrenagem bem mais complexa – e, muitas vezes, obscura – de manipulação de preços, estratégias contábeis e distorção de valor. O que parece um presente ao consumidor, frequentemente é apenas um jogo de percepção cuidadosamente calculado.

2. A falsa ilusão do 50% off

Em milhares de produtos, o desconto anunciado não é real. O velho truque de inflar o preço semanas antes da Black Friday e reduzi-lo “milagrosamente” na data virou prática comum – e ilegal. O Código de Defesa do Consumidor é claro: anunciar desconto sobre preço fictício caracteriza publicidade enganosa.

Ainda assim, o Procon registra todos os anos centenas de autuações. O consumidor, empolgado pela sensação de oportunidade, raramente compara históricos de preços. Confia no marketing e compra impulsivamente. O resultado? Economias ilusórias e empresas que faturam mais vendendo “descontos” do que produtos.

3. A engenharia financeira das promoções

O que poucos percebem é que o “milagre” da Black Friday também se constrói dentro dos demonstrativos contábeis. Empresas que concedem grandes descontos em produtos de alto giro compensam essas perdas elevando margens em outros itens ou reajustando políticas comerciais no restante do ano.

A estratégia é planejada. O desconto aparente é uma operação financeira disfarçada de generosidade. Por trás da vitrine, há um cálculo minucioso: custo médio, margem líquida, curva ABC de produtos, elasticidade de demanda e reposição de estoque. Nada é casual. Até a “perda” é contabilmente prevista.

4. O papel da contabilidade na Black Friday

Enquanto o marketing promete, é a contabilidade que garante a sobrevivência. Toda ação promocional precisa ser refletida no balanço – seja como redução de receita bruta, ajuste de custo ou provisão para perda de margem.

Empresas financeiramente maduras sabem que um desconto mal estruturado pode destruir rentabilidade e comprometer o fluxo de caixa.

Assim, o contador – aquele profissional discreto nos bastidores – é quem traduz o entusiasmo do comercial em números reais. Ele calcula o ponto de equilíbrio, estima o impacto tributário (PIS, COFINS, IRPJ, CSLL, ICMS, ISS) e garante que o brilho da promoção não se transforme em prejuízo disfarçado de “campanha de sucesso”.

5. Fraudes e infrações disfarçadas de marketing

A cada ano, os órgãos de defesa do consumidor intensificam a fiscalização. Entre as irregularidades mais comuns estão: preços maquiados, ofertas que não se cumprem, publicidade sem estoque suficiente e falsos descontos sobre produtos remarcados.
Empresas são multadas, a credibilidade se perde e a confiança do consumidor se deteriora. A fronteira entre criatividade publicitária e fraude é tênue – e o marketing, quando usado sem ética, torna-se uma ferramenta de engano.

A Black Friday, nesse contexto, revela muito sobre a maturidade empresarial de um país: enquanto algumas constroem reputação, outras preferem arriscar sua imagem por algumas horas de faturamento.

6. O comportamento do consumidor e o vício da urgência

O sucesso da Black Friday não está na lógica, mas na emoção. “Compre agora”, “últimas unidades”, “tempo limitado”, são gatilhos mentais poderosos, explorando o medo de perder (o famoso FOMO, sigla inglesa que quer dizer: Fear of Missing Out, que significa literalmente “medo de ficar de fora”).

O consumidor não compra o produto, compra a sensação de vantagem. Mas a vantagem é relativa: raramente há economia real, e quase sempre o pagamento é parcelado a longos prazos, transformando o “desconto” em uma dívida que não raro, acaba estourando o cartão de crédito e com relativa frequência, leva a inscrição nos órgãos de proteção ao crédito. Resultado: a ilusão do barato acaba saindo muito caro!

Mas problema é cultural: prefere-se parecer esperto a ser racional. E é aí que mora o perigo. O mesmo impulso que leva à compra impensada alimenta o ciclo de endividamento e consumo ilusório.

7. O outro lado da moeda – empresas éticas e valor real

Felizmente, há empresas que utilizam a Black Friday como oportunidade legítima de girar estoque, reduzir perdas e aproximar-se de seus clientes com transparência.

Essas marcas não mentem, não disfarçam, não inflacionam preços. Elas enxergam o consumidor como parceiro, e não como alvo.

Ao agir assim, fortalecem seu capital mais valioso: a confiança. Num mercado saturado de enganos, ser ético é o maior diferencial competitivo.

8. Black Friday à brasileira – e a diferença entre países sérios e oportunistas

Nos Estados Unidos, berço da Black Friday, o conceito nasceu de forma legítima: liquidar estoques após o feriado de Ação de Graças, oferecendo descontos reais, auditáveis e limitados ao excesso de produtos parados. É um evento logístico e contábil, não um espetáculo de ilusão.

Os descontos são efetivos porque derivam de uma decisão estratégica de gestão de inventário – e não de manipulação de preço. Grandes redes precisam prestar contas aos acionistas e às autoridades reguladoras, o que impede práticas enganosas.

O resultado é previsibilidade: o consumidor sabe que está diante de uma liquidação verdadeira, e o comerciante preserva a confiança do público.

Já no Brasil, a data foi importada com entusiasmo, mas sem integridade. O que nasceu como ação de limpeza de estoque, transformou-se em uma farsa institucionalizada.

A Black Friday brasileira é, em muitos casos, um teatro de remarcações: preços inflados em outubro, reduzidos em novembro e devolvidos ao patamar original em dezembro.

O termo “Black Fraude”, amplamente usado nas redes sociais, traduz a desconfiança generalizada – e essa desconfiança não é gratuita. Segundo o Procon-SP por exemplo, mais de 65% das reclamações anuais sobre propaganda enganosa decorrem desse período.

Em países sérios, o desconto é consequência de eficiência; no Brasil, virou uma ferramenta de marketing travestida de benefício.

A diferença é moral, cultural e institucional. Lá fora, transparência é pilar de negócio. Por aqui, ainda se confunde criatividade com malandragem.

E enquanto o consumidor brasileiro continuar celebrando “promoções” sem exigir clareza, a Black Friday seguirá sendo uma caricatura tropical de uma boa ideia estrangeira.

9. Conclusão – o preço da desinformação

A Black Friday escancara o paradoxo do consumo moderno: o cliente acredita estar economizando, mas paga o preço da desinformação.

A contabilidade – quando praticada com seriedade -, mostra o que o marketing tenta esconder: desconto não é sinônimo de economia e promoção sem transparência é apenas manipulação.

No fim das contas, a pergunta que fica é simples: quem realmente ganha na Black Friday?

A resposta, quase sempre, é quem entende o jogo dos números.

Na Zannix Brasil Contabilidade, acreditamos que o verdadeiro desconto está na gestão inteligente, na transparência e na informação contábil de qualidade. Black Friday passa, mas o resultado financeiro permanece.

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